domingo, 23 de dezembro de 2012

Instante-Já. Do título, da ideia, do medo.



Relendo o livro “Água Viva”, de Clarice Lispector, lembrei de como gosto das palavras. Difícil descrever o que se sente lendo esse livro. Só sei que me encheu de palavras. E de sentimentos. Não lembro quais eram. Eram. É. Mas não me culpo, ela mesma me conforta: “Não sei o que estou escrevendo: sou obscura para mim mesma”. Nesse livro, ela fala do “instante-já”: 

“Mas o instante-já é um pirilampo que acende e apaga. O presente é o instante em que a roda do automóvel em alta velocidade toca minimamente no chão. E a parte da roda que ainda não tocou, tocará em um imediato que absorve o instante presente e torna-o passado. Eu, viva e tremeluzente como os instantes, acendo-me e me apago, acendo e apago, acendo e apago.”

Talvez eu, nós, it, vivemos assim. É de instantes-já que eu escrevo. Escrevo esporadicamente, pois é assim que os espantos, os instantes-já-espantos, aparecem. Ou aparecem o tempo todo e eu os percebo esporadicamente. Não sei. Só sei que escrevo. Às vezes.

Não escrevo para ninguém, escrevo de espantos, como disse alguma vez Ferreira Gullar. De jeito algum estou me comparando a ele. Não me comparo a ninguém. Não sou ninguém. Talvez escrevo para meu eu-leitor, um leitor-it, se isso existir. Isso não existe, muito provavelmente. Melhor assim.

Não sei bem por que estou começando isso, talvez é uma forma de eu escrever mais. Me cobrar mais. Ou não. Não sei. Veremos.

“Não é confortável o que te escrevo. Não faço confidências. Antes me metalizo. E não te sou e me sou confortável; minha palavra estala no espaço do dia. O que saberás de mim é a sombra da flecha que se fincou no alvo. Só pegarei inutilmente uma sombra que não ocupa lugar no espaço, e o que apenas importa é o dardo. Construo algo isento de mim e de ti - eis a minha liberdade que leva à morte.”

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