quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Espelho da Alma



Acordo. Robótico.
Terror sufocante.

Percebo fios conectados em mim
De várias cores e tamanhos.
Tenho de arrancá-los. [Tenho?]
Mas e se forem meus? [Algum é meu?]
E os dos outros, arranco? [Que outros?]
Agora estão todos emaranhados.

Conflito interno. [Enterro?]
[Não posso. Mas algo me diz que erro.]
Penso. [Sou eu pensando?]
Reflito. [Sou eu refletindo?]
- Quem sou eu?
[Quem está perguntando?]
Abiogênese de interrogações
Mas nenhuma resposta.
Insisto. Desisto. [Ciclo] [Reciclo]

E me assusto:
Alguns fios se desconectam.
Finalmente, a verdade é revelada.
O propósito das perguntas
É a própria pergunta:
A dúvida é a própria libertação.

Respiro aliviado.
Durmo. Humano.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Nonada. O começo de tudo.

“Uma dose de cada, por favor!
E a existência pra quem fica?
Conflitos.”

Como começar melhor do que com o começo, o começo de tudo? Dia 25/08/10, Gabriela Raimann, colega, amiga, me mandou esses versos.

Era uma brincadeira. Bobagem. Havia perguntado se preferia a “Razão ou a Emoção”, um dos temas da redação de um vestibular.

Mas a velocidade dos versos, o abismo entre eles pararam na minha cabeça. Ou melhor: se movimentaram. Esse foi o epicentro da minha ânsia de escrever. Ânsia essa que vem e vai. Como se estivesse num barco. Ou num carro. O lugar não importa. Só espero que esse movimento nauseante não passe. Pelo menos não agora.

Abaixo um dos poemas-frase dela. Pertinente ao momento.

“Escrever é desabafar de si pra si mesmo com toda inconsciência consciente piscando dentro de ti. Refugiar-se é uma forma boa de se defender apoiado em alguma coisa invisível que finge nos sustentar. Somos fracos num mundo de fortes. A buzina atordoa, os sapatos se pisam e o movimento distrai. Parece cenário tudo aquilo que se sente e o chão que se pisa é a vida real. Quando algo te borra, chora. Ora. Implora. Nada mais importa. O céu vira chão e se fica no ar sem flutuar. Sufocante, mas a fortaleza da vida é senti-la intensa. Agradeça ou refugia-te. Como eu.” 
Gabriela Raimann

Instante-Já. Do título, da ideia, do medo.



Relendo o livro “Água Viva”, de Clarice Lispector, lembrei de como gosto das palavras. Difícil descrever o que se sente lendo esse livro. Só sei que me encheu de palavras. E de sentimentos. Não lembro quais eram. Eram. É. Mas não me culpo, ela mesma me conforta: “Não sei o que estou escrevendo: sou obscura para mim mesma”. Nesse livro, ela fala do “instante-já”: 

“Mas o instante-já é um pirilampo que acende e apaga. O presente é o instante em que a roda do automóvel em alta velocidade toca minimamente no chão. E a parte da roda que ainda não tocou, tocará em um imediato que absorve o instante presente e torna-o passado. Eu, viva e tremeluzente como os instantes, acendo-me e me apago, acendo e apago, acendo e apago.”

Talvez eu, nós, it, vivemos assim. É de instantes-já que eu escrevo. Escrevo esporadicamente, pois é assim que os espantos, os instantes-já-espantos, aparecem. Ou aparecem o tempo todo e eu os percebo esporadicamente. Não sei. Só sei que escrevo. Às vezes.

Não escrevo para ninguém, escrevo de espantos, como disse alguma vez Ferreira Gullar. De jeito algum estou me comparando a ele. Não me comparo a ninguém. Não sou ninguém. Talvez escrevo para meu eu-leitor, um leitor-it, se isso existir. Isso não existe, muito provavelmente. Melhor assim.

Não sei bem por que estou começando isso, talvez é uma forma de eu escrever mais. Me cobrar mais. Ou não. Não sei. Veremos.

“Não é confortável o que te escrevo. Não faço confidências. Antes me metalizo. E não te sou e me sou confortável; minha palavra estala no espaço do dia. O que saberás de mim é a sombra da flecha que se fincou no alvo. Só pegarei inutilmente uma sombra que não ocupa lugar no espaço, e o que apenas importa é o dardo. Construo algo isento de mim e de ti - eis a minha liberdade que leva à morte.”